De 25% a 33% das 180 questões da prova do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem 2009, que acontece no fim de semana que vem, serão de nível considerado difícil. Quem afirma é Helinto Ribeiro Tavares, diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Educação (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem.
A próxima mudança no Ensino Médio, afirmou ele, será a dos livros didáticos, que passarão por adaptação para se adequar à nova forma de abordagem das disciplinas, de contextualização e muita interpretação.
Qual a diferença do Enem atual em relação ao anterior e ao tradicional vestibular?
Helinto: O Enem, no formato até 2008, foi concebido de uma forma muito distante da escola, desde sua concepção, em 1998, para que servisse de avaliação pessoal do aluno e também para que fosse usado como acesso ao Ensino Superior. Por isso, não deu certo. Sentimos a necessidade de criar dois componentes: a de orientação para o Ensino Médio e a do acesso ao Ensino Superior.
O Enem passou a ter uma estrutura completamente diferente, sem aquela grande abrangência como tinha até o ano passado. Agora é composto por áreas (de Linguagem e Códigos, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Matemática). A redação continua no mesmo formato dos anos anteriores.
E em relação ao vestibular?
A estrutura atual do Enem pode estar um pouco diferente dos vestibulares. A maior parte ainda tem questões muito objetivas. O Enem passa daquele formato extremamente seco para uma estrutura muito próxima do que temos da vida, que é uma grande situação-problema, um contexto, em que o aluno tenha uma grande capacidade de percepção, de identificar o problema e, a partir dali, apontar a solução.
Por que os idiomas estrangeiros ficaram de fora?
Neste ano, não houve consenso acerca de se adotar um determinado idioma ou a obrigatoriedade de dois. Sabe-se também que idiomas estão muito associados ao fator socioeconômico, favorecendo quem fez um curso de Inglês paralelo. Por isso, decidiu-se neste ano não cobrar. Mas o objetivo é exigir o uso da língua estrangeira em 2010. Assim, na próxima reunião do conselho, será decidido se será um idioma, se será possível optar entre dois, ou se cobraremos dois obrigatoriamente.
Como será o aproveitamento e a validade da nota do Enem?
As instituições e o próprio comitê gestor ainda vão decidir sobre isso. O importante é dizer que é uma nota comparável ao longo do tempo. Agora, se vai valer durante um momento, dois ou três, deixaremos que as instituições se posicionem a respeito. Essa discussão é que vai permear o tempo de utilização do Enem. Mas pode ser válido por várias edições. Se o aluno não fizer o Enem do ano que vem, ele pode participar com a nota deste ano. Isso está definido.
Com o mesmo peso?
Sim. O que está para ser definido é se o aluno poderá utilizar a última nota maior (em caso de participar de várias edições). Como esse é o primeiro ano, não há esse problema. Estamos deixando essa discussão evoluir para que tome corpo para decisão já na próxima reunião do comitê gestor.
As universidades que aderiram ao sistema unificado são obrigadas a aceitar a nota do Enem anterior ou é apenas uma recomendação do Inep?
É decisão das universidades, que têm autonomia. Mas é recomendação nossa. Estamos oferecendo uma avaliação e sugerindo que elas a adotem em substituição ao processo seletivo. Porque é uma prova com uma técnica muito boa. E principalmente porque passa a ter uma nota comparável no País inteiro e não só naquela universidade.
O Enem unificado acabará elevando a nota de corte dos vestibulares?
Haverá uma seleção melhor desses alunos. Quem sair na frente conseguirá pegar a nata.
A expectativa é que as instituições substituam de vez o tradicional vestibular pelo Enem?
Sim. Neste ano, abrimos o processo unificado só para instituições federais. Recebemos pedidos de várias particulares. Mas preferimos não aceitar ainda. Primeiro, avaliaremos como foi o desempenho em relação às federais. A partir daí teremos outras estaduais e eventualmente particulares.
Mas qualquer instituição pode considerar a nota do Enem cadastrando-se no sistema do Inep. O aluno se inscreverá no processo seletivo delas, que pedirão a nota desse aluno. As particulares já adotam isso no momento da inscrição. O aluno opta por usar a nota do Enem.
Como se divide o nível das 180 questões?
Precisamos ter para cada uma das áreas questões fáceis, intermediárias e difíceis. Por que difíceis? Porque precisamos ter boa seleção dos alunos para atender os cursos de alta demanda. Boa parte da seleção, a gente já poderia fazer só com níveis médios. Mas precisamos dos níveis mais baixos por causa de um dos objetivos do Enem: o de ser usado como certificação do Ensino Médio, ou seja, pessoas que ainda não têm Ensino Médio podem usar o Enem e chegar a desempenho satisfatório.
Vamos sugerir que as secretarias estaduais deem o certificado (de conclusão do Ensino Médio) a eles. Então, é necessário ter os níveis mais baixos. Além disso, precisamos informar às secretarias de educação se os alunos dominam conteúdos a, b, c e d.
E como ficou essa distribuição?
É fundamental que tenhamos aproximadamente um quarto (25%), em algumas delas um terço (33%), de itens mais fáceis, dois quartos de intermediárias (50%) e um quarto de difíceis. Em alguns casos, um terço de cada nível.
Nessa reta final, o que os alunos podem fazer?
A sugestão é descansar. Tenho falado isso porque o Enem é um exame em que é preciso ter muita capacidade de reflexão. É necessária uma mente descansada para poder entender os itens, que são de muita leitura, poder refletir bastante sobre o que está sendo solicitado e assim acertar a resposta. Os alunos têm que estar preparados para alta capacidade de reflexão. E isso não vão conseguir estudando até a madrugada do dia anterior.
O fato de as questões serem interpretativas pode dar margem a várias respostas?
As questões foram muito bem formuladas. Por mais que a carga de texto seja grande, que é a característica do Enem, só haverá uma resposta. Inclusive em todos os itens que preparamos, para cada alternativa há uma explicação de por que está certo ou errado. Isso deve ser apresentado logo depois (da aplicação da prova).
Qual a expectativa sobre as notas?
Não podemos dizer isso porque as notas não são comparáveis. Este ano vai ser o ponto inicial da escala e a partir daqui podemos medir se piorou ou melhorou em relação aos anos anteriores.
Como ficou o oferecimento de vagas pelas universidades para o Enem?
Teremos um pouco mais de 50 mil vagas considerando todas as universidades, que é um número razoável, sem falar nos institutos. A média é de 50% das vagas, mas alguns cursos vão oferecer até 100% delas. É natural que as instituições experimentem este ano. Acreditamos que nos próximos três anos esse processo se consolide passando a quase todas as vagas oferecidas para o processo seletivo unificado. Se não forem todas.
O senhor acha que houve mudança na didática das escolas? Acredita que houve tempo para isso?
As escolas nunca se preparam para o outro Enem. Eram os cursinhos que faziam isso. Agora, o Enem está mais próximo delas. Mesmo assim, não é exatamente o que as escolas trabalham. Elas já deveriam estar nessa linha há dez anos. O que fizemos foi formalizar o que já estava previsto há dez anos. Por isso, de certa forma, as escolas, os alunos e os professores estão mais preparados para esse formato que para o anterior. Mesmo assim, as escolas precisarão melhorar mais.
O senhor comentou sobre os professores terem se adaptado. Essa adaptação aconteceu de fato?
Eu acredito que os professores estão se adaptando efetivamente. Mas a mudança muito grande que haverá agora é a mudança dos materiais didáticos. Ela já está em curso para que essa nova forma de abordagem seja implementada nas escolas. As instituições de educação superior terão que formar professores com esse nível de contextualização. É um sistema todo que tem que mudar nas suas diversas esferas e etapas, até chegarmos à consolidação final desse processo.