sábado, 22 de agosto de 2009

Enem - Nota da prova será uma incógnita

Imagine que você tenha resolvido uma prova com 50 questões de múltipla escolha e acertado 20 delas, número igual ao de um colega que também participou do teste. Em alguns dias você recebe o resultado: a sua nota é 30, enquanto a de seu colega é 40. Isso é possível? Com a nova metodologia que será usada na estruturação do Enem, sim. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, levará em conta que tipo de questões o candidato acertou, e não apenas a quantidade de acertos.

Em outras palavras: as questões terão pesos diferentes. O diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep, Heliton Ribeiro Tavares, explica que a pontuação de cada pergunta será determinada a partir de três características: grau de dificuldade (a questão pode ser fácil, média ou difícil), índice de discriminação (capacidade da questão de selecionar os participantes) e probabilidade de acerto ao acaso (a chance que um aluno tem de, chutando, acertar a questão). Terão peso maior as perguntas mais difíceis, que consigam diferenciar o aluno bem preparado, e que apresentem pequena probabilidade de acerto na base do chutômetro.

O problema é que, no momento do exame, o aluno não saberá quais questões valerão mais pontos. Não adianta somar os acertos nas provas, porque não será possível calcular a nota final. Segundo Tavares, o governo estuda a possibilidade de divulgar os valores dos três parâmetros de cada pergunta após o Enem. “O aluno não conseguirá, sozinho, calcular a sua nota, mas talvez possamos oferecer um programa de computador para que ele tenha ideia de qual é a sua pontuação”, adianta.

Na avaliação do professor de Matemática Emerson Marcos Furtado, do Curso Positivo, os critérios de avaliação ficariam mais claros se o exame trouxesse as questões separadas por peso. Como o número de perguntas é grande e os alunos terão pouco tempo para responder cada uma (menos de três minutos), eles poderiam dedicar mais tempo àquelas que valessem mais.

Já o diretor do Curso Dom Bosco, Ari Herculano de Souza, considera que o fato de o aluno não saber o valor das questões não deve prejudicar a transparência do processo seletivo. “Em uma prova como essa, com características nacionais, é pouco provável que um aluno tenha favorecimento. O importante é que a regra esteja clara e seja igual para todos”, afirma. Para o professor Anselmo Chaves Neto, do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o exame conseguirá avaliar adequadamente os participantes. “O Enem será muito bem feito por dois motivos: o conteúdo do ensino médio será bem avaliado, pelo grande número de questões, e as questões serão planejadas com rigor”, diz.
Inspiração

Enem se baseia em teste internacional

O novo Enem será elaborado segundo a Teoria da Resposta ao Item (TRI). O nome pode assustar, mas o governo não está “inventando a roda”. Esse modelo estatístico foi criado no início do século 20 e já é aplicado em provas como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), cuja finalidade é comparar o conhecimento de estudantes de 15 anos de diferentes países. No site criado para tirar dúvidas sobre o Enem (www.enem.inep.gov.br), o Inep afirma que a TRI “garante a comparabilidade das notas entre diferentes edições a partir da calibração do grau de dificuldade das questões”.

Segundo Heliton Tavares, do Inep, cerca de 10 mil perguntas serão pré-testadas para que o Inep calibre o valor de cada uma. Dentro desse banco de questões, o governo selecionará as 180 que vão cair no Enem. “Iremos aplicar cada um desses itens (questões) para mil alunos, das redes pública e particular. Serão estudantes do segundo ano do ensino médio e estudantes de instituições superiores. Não usaremos a população padrão (estudantes do terceiro ano) por precaução, para que os alunos não saibam previamente o que vai cair na prova”, explica.

Tavares afirma que a TRI permitirá comparar o resultado dos estudantes ao longo do tempo. No modelo atual, mesmo que se tente manter a mesma complexidade nos exames de anos diferentes, o grau de dificuldade é sempre variável. Não é possível dizer com precisão se o resultado dos alunos melhorou ou piorou, porque são provas diferentes sendo comparadas. “Com a TRI você consegue comparar as habilidades dos alunos de um ano para o outro. Se a prova de um ano é mais fácil do que a do ano seguinte, aqueles alunos que fizeram a primeira acabam sendo beneficiados”, afirma o diretor do Curso Positivo, Renato Ribas Vaz.

Vaz ressalta que o Inep terá de minimizar não apenas a diferença entre o exame de um ano para outro, mas entre cada prova (Linguagens; Ciências Humanas; Ciências da Natureza; e Matemática) aplicada em edições distintas. “A complexidade de cada área precisa ser a mesma, porque as universidades podem dar pesos diferentes para cada uma de acordo com o curso escolhido pelo candidato”, diz. (MC)