sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Esforço na resposta vale mais no Enem

Não estranhe se o seu colega acertar menos questões que você e ganhar mais pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É que o novo exame vai avaliar o esforço do estudante para responder cada uma das questões. Então, esqueça a maratona e pense em uma prova de salto em altura, onde o que interessa não é quantas vezes você salta, mas a altura do obstáculo.

A comparação foi feita por Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pelo Enem, para explicar o exame que tem em sua formulação a Teoria da Resposta ao Item, conhecida pela sigla TRI. Essa teoria é um conjunto de modelos matemáticos, já usado em exames nacionais e internacionais como o Pisa, que avalia, entre outros aspectos, o tipo de conhecimento que cada questão exige do candidato.

Na hora do teste, os candidatos não saberão quais questões valem mais ou menos pontos. Todas terão passado antes por um pré-teste (aplicado pelo MEC em escolas e universidades) para comprovarem o grau de dificuldade e o perfil do aluno que as acerta. Assim, elas serão ordenadas nos níveis fácil, intermediário e difícil.

Em qualquer exame, há questões mais complicadas do que outras. A diferença é que, com a TRI, os itens mais
difíceis valem mais pontos que os demais. Dessa forma, será possível acertar menos e ter pontuação maior.

Outro efeito da TRI é que o candidato não terá uma nota, mas uma pontuação. Mesmo que o gabarito indique 20 acertos em 40 questões, isso não indicará metade de aproveitamento. O desempenho será medido de acordo com a dificuldade das questões que o candidato acertou.

Conforme o consultor do Inep Dalton de Andrade, professor do Departamento de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o modelo é capaz de indicar com precisão quais os conhecimentos que o estudante domina e quais não domina em cada área. Assim como as questões, que se apresentam em uma escala de dificuldade, o Inep promete divulgar o desempenho detalhado dos alunos em diferentes níveis.

– Queremos ir além de uma nota. Vamos informar o nível de conhecimento de cada estudante, diferentemente dos vestibulares. A TRI tem a vantagem de diferenciar indivíduos e produzir resultados mais justos e confiáveis, valorizando sempre o mérito – diz Heliton Ribeiro Tavares, diretor de avaliação de Educação Básica do Inep.

Preste atenção

O Enem terá 25% de questões fáceis, 50% intermediárias e 25% difíceis. O MEC conhece o perfil do estudante que acerta cada tipo de questão e vai identificar o chute

Professor considera prova do Enem muito fácil

A nova prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é muito fácil, o que pode impedir uma avaliação mais criteriosa dos candidatos que disputam uma vaga para o Ensino Superior. Esta é a opinião de professores do Ensino Médio e cursinhos, após análise do simulado com 40 questões divulgado, na quarta-feira, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep). A prova mantém o estilo dos anos anteriores e o conteúdo foi ampliado.

O professor de Matemática do Soma, Renato Carneiro, considerou a resolução da prova muito simples e acha que haverá dificuldade em selecionar alunos para os cursos mais concorridos. Ele observa ainda que os enunciados da prova continuam muito grandes, e é possível responder à maioria das questões lendo só a pergunta.
Carneiro afirma que a prova está um pouco mais interessante e mais complexa que a aplicada no ano passado. “Essa prova teria apenas 60% do grau de dificuldade em relação à prova aplicada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Acho que a redação vai ser o grande diferencial”. Já para o professor Rogério Janop, do Unimaster, “a prova exigiu uma interpretação maior dos fatos”.

O estudante do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Arnaldo, João Batista de Souza Júnior, 17 anos, achou interessante a divulgação das questões. “Vai ajudar o candidato a ter uma noção de qual o parâmetro da prova”. A aluna Marina Emediato, do 3º ano do Colégio Magnum Cidade Nova, já resolveu algumas questões
do simulado e destacou a importância de prestar atenção aos enunciados. “O enunciado é extenso e chega a ser cansativo. Pode ser complicado terminar a prova”.Ela achou as questões fáceis, em especial as de Matemática, e considerou as de Ciências Humanas mais abrangentes.

O diretor de Ensino do Colégio Bernoulli, Rommel Fernandes Domingos, ressalta que o conteúdo priorizado no simulado abordou questões do dia a dia. Em Matemática, por exemplo, o foco da prova foi a regra de três, juros, tabela e as fórmulas mais básicas de geometria, de áreas e volumes. Ele acha que a prova se aproxima da primeira etapa da UFMG “por baixo” e poderia substituir uma primeira etapa, mas nunca a segunda.

O professor de Português do Soma, Mário Lúcio Cortez, se disse decepcionado porque as questões divulgadas não abordaram habilidades relacionadas à dança, teatro, música e esportes, conforme previsão inicial do Ministério da Educação. Ele concorda que não houve aumento no grau de dificuldade da prova. “As questões estão facílimas, com respostas bem óbvias. O aluno deve ter preparo psicológico para aguentar a maratona de questões (180 e uma redação), que deve provocar grande cansaço mental e físico. Para o professor de Geografia do Colégio Bernoulli, Edvaldo Júnior, a prova abordou muitas questões de atualidade que lembram o estilo da UFMG, mas são mais fáceis e por isso pessoas não tão qualificadas podem tirar nota alta. O “novo” Enem acontece nos dias 3 e 4 de outubro. Dez universidades federais do Estado vão usar o exame, apenas a UFMG ainda não o adotou.