Neste ano, o Ministério da Educação (MEC) alterou o formato do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado nos dias 3 e 4 de outubro. Em vez das 63 questões de múltipla escolha, a prova passa a ter 180, além da redação.
A metodologia na elaboração e correção da prova também mudou. Heliton Tavares, diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC que aplica o exame, explicou as principais mudanças. Confira a seguir.
1 - Quanto valerá cada questão da prova do Enem?
Cerca de um quarto da prova será fácil, dois quartos terão grau de dificuldade intermediário e o outro quarto será de questões mais difíceis. O valor de cada questão irá variar de acordo com o seu grau de dificuldade, mas não há ainda definição sobre o número de pontos.
2 - Como são escolhidas as questões que vão entrar na prova?
O Inep compra milhares de questões elaboradas por empresas especializadas e algumas secretarias estaduais de educação. As questões são antes aplicadas para centenas de alunos de toda parte do país. Com base no acerto desses estudantes, o Inep sabe qual questão é mais fácil ou difícil. Elas, então, são colocadas numa escala de proficiência. No caso do Enem, as questões foram pré-testadas com alunos do segundo ano do ensino médio de escolas públicas e algumas particulares e do primeiro ano de faculdade, especialmente de universidades federais. Alunos do terceiro ano não participam do pré-teste justamente por fazerem parte do público-alvo.
3 - O que é a escala de proficiência?
A escala de proficiência é como se fosse uma régua em centímetros. Cada ponto da escala (ou centímetro, no exemplo da régua) funciona como um indicador do conhecimento da pessoa naquele assunto. Uma pergunta de português, por exemplo, pode avaliar se quem responde sabe estabelecer relações entre imagens, gráficos e um texto. Outra analisará se essa mesma pessoa sabe relacionar causa e conseqüência entre partes do texto.
4 - Quais serão as habilidades e competências avaliadas pelo novo Enem?
A matriz está dividida nas quatro áreas de conhecimento que farão parte do exame: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. O conteúdo será o que é ensinado no ensino médio, com a diferença que será cobrada mais a capacidade de raciocinar do que a "decoreba". Cada questão terá uma habilidade avaliada. Confira aqui a matriz de referência .
5 - Com base nessa escala, quais serão as notas para cada questão?
Depois de pré-testadas, as questões são colocadas na escala de acordo com o seu grau de dificuldade. Assim como em algumas escolas as notas vão de 0 a 10, no Enem é provável que a escala vá de 200 a 800, com média 500, mas esses valores ainda serão definidos pelo Inep.
6 - Então 800 pode ser a nota máxima?
Não é possível afirmar isso, porque vai depender do desempenho dos candidatos. Alguém poderá tirar uma nota acima disso. Podemos tomar como exemplo, usando ainda a ideia da régua, a altura de uma pessoa. A maior parte da população de uma região mede em geral até 2 metros de altura, mas pode acontecer de um indivíduo ter 2,05 metros. É a mesma coisa com a escala de proficiência.
7 - Como é calculada a nota da prova do novo Enem?
A nota não é baseada na quantidade de questões certas, mas no tipo de questões que o candidato acertou, se foram mais difíceis, por exemplo, ele terá mais pontos. O cálculo é baseado num modelo matemático chamado de Teoria de Resposta ao Item, em que o item corresponde a uma questão. A teoria relaciona uma ou mais habilidades com a probabilidade de a pessoa acertar a resposta.
8 - Qual é a escala da nota? Como serão apresentadas as notas? Haverá uma nota geral?
Haverá uma nota para cada uma das quatro áreas de conhecimento avaliadas (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas) e uma quinta nota para a redação. Não será dada uma nota geral. Haverá uma descrição do nível do candidato e as habilidades que ele domina. O candidato também conseguirá comparar o seu desempenho com a média da região e do país.
9 - Como o candidato saberá do seu desempenho?
A consulta ao boletim individual de desempenho estará disponível no site do Inep. O candidato também receberá o boletim pelo correio. A previsão é que o resultado da parte objetiva seja divulgado no dia 4 de dezembro e o resultado final, com a redação, saia no dia 8 de janeiro.
10 - O candidato conseguirá calcular a sua própria nota?
Não. É preciso aplicar uma fórmula para chegar à nota em cada uma das provas. Um programa de computador fará o cálculo levando em consideração o padrão de resposta e não somente o número de acertos.
11- É melhor chutar uma resposta qualquer ou deix ar a questão em branco?
Sim, é melhor chutar. Ao marcar uma resposta, o candidato tem mais uma chance de acertar. Então, o Inep recomenda que o candidato não deixe questões em branco. Apesar disso, o chute deve ser moderado. E, para ter mais chances, o candidato deve analisar as alternativas e eliminar as mais improváveis de estarem corretas.
12 - O sistema consegue identificar se o candidato chutou muito? Como isso acontece?
Sim. A nota final não considera o total de acertos, mas o padrão de resposta do candidato. Isto é, o índice de acertos de questões fáceis, médias e difíceis deve ser equilibrado. Estatisticamente, quem erra questões mais simples acertará um número menor de difíceis. Da mesma maneira, aqueles que acertam as mais complexas não erram nas fáceis. Então, quem acertar mais difíceis do que fáceis provavelmente chutou em boa parte da prova. No geral, como a prova vai considerar o padrão de respostas, o aluno que acertar proporcionalmente fáceis e difíceis terá um desempenho melhor do que aquele que acertar mais difíceis do que fáceis. Se o chutador acertar mais difíceis do que fáceis, a nota atribuída à questão certa será inferior à daquele que respondeu certo por dominar o tema.
13 - Questão errada tira ponto?
Não é descontado nenhum ponto se o candidato errar uma questão.
14 - Esse sistema de avaliação, como o novo Enem, é usado em alguma outra prova?
No Brasil, um exemplo de avaliação que usa esse sistema é o Saeb e a Prova Brasil, avaliações federais da educação básica. Exames internacionais, como o Toefl, de proficiência em inglês, e o SAT, usado pelas universidades americanas para selecionar candidatos, também usam essa mesma teoria. Como a teoria permite definir com precisão o grau de dificuldade da prova é possível fazer esse tipo de prova em momentos diferentes e comparar os resultados.
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